Reconhecimento de Paternidade
Por Keila Rodrigues
Alguns dias atrás li uma matéria sobre a busca de milhares de pessoas por reconhecimento da paternidade, e isso me fez pensar sobre quantas mulheres ansiosamente buscam o reconhecimento da paternidade de Deus.
Você sabe quem é o seu pai terreno ? Se a resposta for sim, então, você pode agradecer a Deus e se sentir uma felizarda!
Independentemente se o seu pai é ou foi um bom pai ou não, você se encontra fora de uma triste estatística: a de milhares de pessoas que não sabem que é o seu genitor e carregam consigo a angústia e o desejo de saber quem é o seu pai. De acordo com a Defensoria no ano de 2018 1,9 milhão de pessoas procuraram o serviços de reconhecimento ou investigação de paternidade. (1)
O que levaria quase 2 milhões de pessoas a procurarem o pai ? Que desejo seria esse ? Muitas delas, certamente, vivem com a mãe que provavelmente se esforçam para suprir a ausência do pai e criar sozinhas os filhos. Mas mesmo assim, porque insistem em conhecer o pai ? O que as movem para essa jornada em busca desse reconhecimento?
De acordo com a Psicologia, ”a qualidade da relação entre mãe e filho é uma das coisas mais importantes para garantir um desenvolvimento saudável,” no entanto, “o que muitos se esquecem é que a figura do pai também é vital.”(2)
Estudiosos do comportamento humano afirmam que “quando a figura paterna está ausente, é mais provável que haja consequências negativas no desenvolvimento infantil, tanto no aspecto físico quando psíquico. Sem carinho, atenção e feromônios.”. O que pode promover consequências na formação do indivíduo, pois a “figura do pai é peça-chave no processo de descoberta do mundo pela criança e, privada desse referente, ela se sente menos segura e, por que não dizer, menos capaz, amada e desenvolve um sentimento de inferioridade.” (2)
Teria esses 2 milhões ido em busca desse referente para superarem a insegurança e a baixa estima ?
Milhares de pessoas que não possuem o nome de seu pai na certidão de nascimento e carrega essa lacuna não apenas em um documento, mas principalmente no coração o desejo de saber quem é ou foi o seu pai.
Sou órfã de pai desde os meus 15 anos. Hoje, passados 30 anos de seu falecimento, ainda me lembro do olhar carinhoso, das mamadeiras de chá bem quentinha que ele preparava para nos aquecer nas noites frias da São Paulo, dos anos 80. Lembro dos passeios que ele fazia comigo e com meus irmãos, mesmo com poucos recursos ele se preocupava em se organizar, pelo menos uma vez ao ano, para viajar conosco e nos ensinar a apreciar a vida por meio dessas viagens. Assim conseguíamos também desfrutar de sua companhia e de minha mãe. Foram momentos que ficaram gravados em minha memória e hoje tento fazer o mesmo, juntamente com meu marido, separarmos um período para viajar com as crianças, hoje estão crescidas, mas para os pais, os filhos serão sempre crianças!
Lembro-me ainda dos conselhos pacientes que ele dava a mim e aos meus irmãos: “estude, seja educada, diga obrigada, peça com licença, não esqueçam de sempre que forem pedir algo que seja “por favor”, “por gentileza”. Uma vez ele me ensinou uma expressão nova “por obséquio”. Mas não me explicou o que significava, eu imaginei que fosse algo bom, se não meu pai não me ensinaria. E no dicionário achei obséquio - “algo que se faz para alguém desinteressadamente, apenas por gentileza; favor, serviço.” Resumindo, a gentileza é sempre bem-vinda, não faz mal a ninguém, pelo contrário, é pacificadora.
Poderia continuar citando inúmeras experiências que vivenciei com ele, meu pai José Angelo dos Santos, mas vou encerrando por aqui, pois lembrar dele ainda dói, embora haja um consolo pelo pai de qualidade que ele foi e por isso sua presença em minha vida foi fundamental para eu me tornar quem sou hoje e o modo encaro a vida. Ter um pai, saber quem ele é, poder conviver com ele é uma dádiva, é um privilégio. Embora , muitas vezes, só nos damos conta disso quando ele já não está mais perto de nós.
Você sabe quem é o seu pai ? Tem alguma recordação dele ? Algum exemplo a ser seguido ? Ou não gosta de lembrar-se dele? Traz sensações tristes e amargas?
Não importa, você tem um pai. Mesmo que não seja o pai que você gostaria de ter ele é o seu pai, sem ele você não existiria. Seu DNA é constituído com informações genéticas fornecidas pelo teu pai.
Da mesma forma que se busca o reconhecimento de uma paternidade biológica o nosso espírito deseja conhecer quem nos criou, a quem pertencemos, pois isso nos trará segurança e estabilidade. Há um latente desejo de reconhecimento de paternidade celestial em nossa alma.
Desejamos nos sentir seguras e bem estimadas, mas muitas vezes por não reconhecermos quem Deus é como pai, nos afastamos dele como filhas e nos aproximamos apenas como servas, prontas para servi-lo, mas rejeitamos seu amor de Pai. Muitas vezes não nos consideramos dignas do seu amor e da sua graça e por isso nos sentimos sem um Pai. Abaixamos nossas cabeças e caminhamos desamparadas e solitárias, mas sempre à procura de um “exame de DNA” para descobrir a quem pertencemos e qual a nossa essência.
Nos esquecemos que em Jesus fomos feitas “ filhas de Deus e não mais servas”. Pois a servo não tem direito a nada, mas a filha tem direito a herança.
Não permita que o inimigo te entristeça, dizendo que você não tem direito de desfrutar plenamente de uma vida abundante e de intimidade com o Pai. Você pode chamar o “ papai”, e Ele vem ao seu encontro, te pega no colo e te faz sorrir! O desejo de Deus é que suas filhas sorriem, ”assim como um pai deseja o melhor para um filho “ , Deus se deseja o melhor para suas filhas.
“E, porque sois filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho para habitar em vossos corações, e ele clama: “Abba, Pai!”. Portanto, tu não és mais escravo, mas filho; e sendo filho, és igualmente pleno herdeiro por decreto de Deus.” ( Gálatas 4.6-7)
Muitas pessoas desejam ser reconhecidas pelo pai, mesmo correndo o risco de descobrirem que seu pai não é nada daquilo que imaginam. Ou ainda que já ouviram falar do pai, quem ele é como pessoa, mas não se importam, querem conhecer esse pai e se possível conviver, receber afeto quer por um aperto de mão, um abraço ou apenas pelo olhar. Querem pelo menos o olhar do pai sobre elas, enfim, desejam o reconhecimento da paternidade. Na atualidade para que a paternidade seja reconhecida é necessário o exame de DNA, como já dito, há mobilizações para ajudar nessa tarefa nada fácil de filhos procurando pelo seu pai, sua outra referência, sua origem.
Na esfera espiritual o DNA já foi decifrado: em Jesus podemos encontrar todas as características necessárias para revelar o DNA de Deus em nós.
Ser chamada de filha amada é importante para nosso desenvolvimento espiritual. Isso mantem a nossa autoestima elevada e nos transmite segurança para prosseguirmos nos momentos de desafios nesta vida. Pois nos sentiremos segurar nos braços do Aba Pai. Ter clareza que somos “ filhas amadas por Deus” é tão relevante para nós, que Deus reconheceu a paternidade de Jesus, ao ser batizado nas águas do rio Jordão:
“Este é o meu filho amado!” ( Mt 3.7).
Porque Deus disse isso a respeito de Jesus ? Ele não sabia que era o filho de Deus ? Ele não sabia que era amado? Sim, certamente! Mas como ser humano, ele precisava ser lembrado que não estava sozinho, que tinha um pai que estava olhando para ele a todo momento, inclusive no momento que logo ele enfrentaria: a tentação no deserto. Ouvir aquelas palavras sem dúvida trouxe mais segurança e convicção de que ele, Jesus como homem, tinha um pai. Sua paternidade foi reconhecida ali . Muitos ouviram a voz dizer que “aquele era o seu filho que ele tinha muito amor por ele”.
Do mesmo modo Deus nos diz: “Vocês são filhas amadas”. Não importa o deserto, provação e tentações que estiverem passando. Mantenham na mente “meu Pai Celeste me ama, cuida de mim! “. Se você está lendo isso agora é porque o Pai celestial tem cuidado de você. Reforce em sua mente, todas as vezes que a sua paternidade for questionada: Deus é seu pai ? Deus te ama ? Então porque você está passando por tudo isso? Responda: “ Eu tenho um pai que me ama, sabe o que é melhor para mim! Escolho reconhecê-lo como meu pai e esperar por Ele!”
“ Você tem um Pai!”. Talvez o seu pai biológico nunca tenha reconhecido a sua paternidade, ou você seja órfã e não tenha mais a presença de seu pai. Mas algo precisa ficar claro – Você tem um Pai Celeste que é perfeito em tudo que faz sabe do que você precisa e continuará cuidando de você !
Keila Rodrigues
FONTES
1-Defensoria Pública faz mutirão para reconhecimento de paternidade ( 09/09/19)
Disponível em :http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/defensoria-publica-faz-mutirao-para-reconhecimento-de-paternidade/
2-O papel do pai no desenvolvimento dos filhos
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